quinta-feira, 28 março, 2024
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Associação São Brás trabalha no resgate do cultivo do café em Nova Bandeirantes

Nova Bandeirantes, município localizado na região norte de Mato Grosso já foi conhecido como a capital do café em Mato Grosso.

Com o aumento da pecuária extensiva de corte e da exploração madeireira, o cultivo do café, grão de uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo, perdeu preço e território.

Mal contempladas pelas políticas oficiais de créditos rurais, muitas das famílias passaram a arrendar terras e buscar melhores condições de vida nos centros urbanos.

“Alguns produtores de café que ainda restaram resolveram se organizar”, conta Elaine Cristina Guilherme, agricultora e uma das que se juntaram a grupos que buscam bem-estar e, assim, permanência na área rural.

Em 2006, moradores da comunidade rural São Brás criaram a Associação São Brás. Hoje, a entidade tem 21 famílias associadas e outras 10 colaboradoras, incluso moradoras de comunidades vizinhas.

Além do café, as famílias também cultivam hortifrutigranjeiros e criam gado para produção de leite usado na produção doces, requeijão, queijos e outros laticínios derivados.

Pequenos agricultores, defendem os associados, são desvalorizados frente ao agronegócio que os impede de comercializar seus produtos a valores justos.

A solução perpassa por viabilizar melhores condições pelo fortalecimento comunitário proporcionado pelas organizações de base, como as associações.

“Os sonhos e as esperanças das famílias agricultoras voltaram a existir e aos poucos vêm ganhando força” afirma Elaine, associada.

A associação esteve desativada por alguns anos e voltou a funcionar há cerca de três anos. Foi quando os produtores da região passaram a perceber a importância da organização coletiva na viabilização de recursos para desenvolver o trabalho no campo, no auxílio na comercialização dos produtos e representação dos associados junto aos tomadores de decisões – autoridades municipais, estaduais e federais.

Nos últimos anos, a organização proporcionou aos produtores rurais diversas oficinas de capacitações com temáticas como produção e uso de biofertilizantes, sistemas agroflorestais e modelagem de negócios.

Em equipamentos, teve acesso a sistemas de irrigações para as lavouras, estufas para secagem de grãos, roçadeira motorizada, carreta agrícola, trator, grade niveladora e máquina de limpeza do café.

Mais recentemente, os agricultores foram contemplados por um projeto que viabilizará a compra de equipamento de torrefação. A conquista responde à necessidade dos cafeicultores em agregar valor ao produto e deixar de depender da venda do café ‘em coco’ para cerealistas a baixos preços.

“A torrefação ajuda os produtores a se reestruturarem, a retomar as origens. A comercialização individual favorece os cerealistas, já vender coletivamente agrega valor à matéria prima”, explica Jessé Carvalho, técnico do Instituto Centro de Vida (ICV) e responsável pela cadeia do café no projeto Redes Socioprodutivas.

Com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES e implementado pelo ICV, o projeto auxilia desde 2018 a Associação São Brás e outras organizações comunitárias da região norte e nordeste do estado com assessoria técnica e apoio às cadeias produtivas de leite, hortifrutigranjeiros, cacau, castanha, babaçu e café.

Com visitas suspensas pela pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19), o técnico segue prestando assessoria aos produtores da São Brás por meio de ligações e aplicativos de mensagem.

Conquistas imateriais

“Mais do que equipamentos, a associação ganhou a união entre as famílias: de uma mesma casa e as vizinhas”, diz Elaine, ao contar que os jovens passaram a ter mais interesse pelos negócios dos pais agricultores. Muitos que vão para a cidade retornam às comunidades rurais após terminar os estudos.

Ela própria, que por muitos anos mal conhecia os vizinhos, viu sua vida mudar radicalmente depois que, a convite do marido, atual presidente da organização, passou a participar ativamente das atividades da associação.

“Eu estava em uma fase ruim, não saía de casa, e então vi as pessoas se movendo, vi o valor do trabalho coletivo, de poder fazer bem para as pessoas, trouxe felicidade”, resume a agricultora de origem paranense cuja trajetória demonstra experiência em enfrentar adversidades para viver com qualidade de vida no campo.

Ela conta que chegou em Nova Bandeirantes quando tinha dez anos, em 1995. Seu pai acompanhava seu tio em viagem de caminhão em direção aos estados de Rondônia e Pará para trabalhar em colheitas sazonais quando conheceu o município.

Decidiu ficar. Trabalhando em propriedades rurais de outros, a família economizou o suficiente para adquirir a própria chácara. “Sem luz, sem poço de água, foi uma aventura”, conta.

Restauração de solo e nascentes e cultivo sustentável

Jessé informa que, pelo Redes Socioprodutivas, as famílias da associação já foram responsáveis pelo restauro de 60 hectares de áreas degradadas.

Elaine se emociona ao contar sobre a reação de uma família colaboradora que recebeu mudas de plantas usadas no restauro de nascentes. “Eles nem acreditavam que estavam ganhando, então dá gosto ver esses resultados, esse contato”, diz.

Com apoio e assessoria do ICV, as famílias também cada vez mais têm se interessado pela produção sustentável, afirma a agricultora.

Por isso, a associação é uma das fundadoras e participantes da Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (REPOAMA), entidade que busca incentivar a transição orgânica da produção ao buscar, em conjunto, superar dificuldades burocráticas, amenizar altos custos e, através do selo, agregar valor aos produtos.

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